Há uns bons anos, e não sei como, provavelmente em mais uma das coincidências do destino, apareceu-me numa sala de aula um livro chamado «O Pássaro da Alma». Acho que nem precisei de o ler para perceber do que falava. Folheando-o, página a página, quase só ia observando as imagens que o ilustravam.Obviamente ia deitando um olhito às simples e fortes palavras que as acompanhavam... E por ser de tão simples compreensão, passou a ser o meu único livro favorito. Tão favorito que nem precisa fazer parte da minha coleção de livros. Tenho-o aqui...na caixa dos pensamentos.
Este livro já me serviu para explicar muitas coisas às crianças com quem lido. Já tentei transmitir o que sinto ao lê-las a esta turma, mas os tempos são outros e talvez estas crianças ainda não tenham maturidade suficiente, para entender...para refletir...ou talvez já não tenha eu a capacidade de transmitir aquilo que há tempos julgava fácil....
O que escrevo a seguir aconteceu há um bom par de anos, e só me recordo, porque foi um episódio tão importante para mim, que fiz questão de o registar...E começa quase assim:
Há uns bons anos e na sequência da leitura de um livro, a uma outra turma, numa parte da história a personagem principal ouve uma voz que lhe diz: «Fala com as palavras do coração…».
Aproveitando esta deixa começo a pensar:"Coração? ...aqui estava um bom tema para dinamizar.
Aproveitando esta deixa começo a pensar:"Coração? ...aqui estava um bom tema para dinamizar.
Com giz vermelho, desenhei no quadro um grande e belo coração (talvez o meu), ao que a Mónica indignada me pergunta:
«- Mas, Srª professora, o coração não tem essa forma! Qual é a forma do coração?.»
Querendo mostrar algum saber e com alguma ajuda, o Bruno replica que o coração tem uma forma ovalada e que seria talvez do tamanho de um punho (fechado).
Eu, no alto do meu metro e meio (ok, ok…1,65m), lá respondi prontamente e com um ar matreiro:
«-Ai sim? Que coração pequenino e tão feio…..»
Gargalhada geral!
«- O meu coração tem exactamente esta forma! E aposto que a maioria dos vossos também!
E mais uma pequena grande informação: por dentro está todo dividido em gavetinhas!»
«- Ó professora, mas assim parece um camiseiro!» - Indagou o Emanuel.
«- Bem visto, mas já viram? Pouca gente tem a sorte de ter um camiseiro em forma de coração! Eu sou chique de doer….»
«- Mas professora, da parte de trás também tem gavetas?»
«- Ó querida tem tantas gavetinhas que acho que não arranjaria números para as contar!- exclamei com um ar importante à Ana Cláudia.
«- Mas agora, e que vocês sabem qual é a minha opinião, gostaria que me dissessem o que será que existe dentro de cada gavetinha? Ajudam-me? – inquiri a medo….»
O objetivo principal já estava bem apreendido, e as respostas foram surpreendentes. «- Paz?Amor?Raiva? Alegria? Calma? Inveja?Bondade? Tristeza? Felicidade?….etc»
«- E muito, muito mais! – respondi eu com um sorriso de orelha a orelha. Contudo nem sempre as gavetas se abrem ao mesmo tempo.
Por vezes, abre-se a da alegria, por vezes a da tristeza, muitas vezes o da inveja, e da raiva. Grande parte das vezes o da bondade.
Mas, se pudermos abrir na hora certa um pouquinho de todas…seremos felizes e nós próprios arranjaremos as nossas palavras mágicas, e das emoções!
Mas acima de tudo deveremos ter sempre escancarada, a gavetinha do aiiiiiii….»
«Amor!» - responderam quase em sintonia!
Pá…saí da escola agradecendo que a minha mensagem tivesse passado…e todos a caminho do lanche iam dizendo as suas palavras mágicas. E, a minha gavetinha da felicidade, abriu-se tornando o meu coraçãozito mais forte e feliz!"
Este memória registei-a logo na altura, não fosse esquecer-me da importância dela...e sabem o mais engraçado? A estes meus alunos, nunca ninguém tinha lido o livro «O Pássaro da Alma», nem eu...e o que eles me descreveram? Têm de ler o meu único livro favorito:
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